O esplendor das palavras
queimava no escuro
e sabíamos o lugar
onde o perigo
ameaçava. Dentro de ti
o caos,
a festa dos sentidos
encobria o desamparo.
Isabel de Sá, in O Brilho da Lama, & etc, Lisboa, 1999
ISABEL DE SÁ - POESIA
domingo, 26 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
TRAGÉDIA E PARAÍSO SEMPRE
O poder redentor das palavras
bala no coração até ao fim
mineral escondido no poço
escuridão no olhar dos amantes.
Crianças vestidas de beleza
estrada cega de luz.
Heróis amarrados a si próprios
rio parado no lodo
tirania do desejo ou privação
a loucura brilhando no rosto.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº2, Setembro. 2009
O poder redentor das palavras
bala no coração até ao fim
mineral escondido no poço
escuridão no olhar dos amantes.
Crianças vestidas de beleza
estrada cega de luz.
Heróis amarrados a si próprios
rio parado no lodo
tirania do desejo ou privação
a loucura brilhando no rosto.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº2, Setembro. 2009
LONGA É A NOITE
Quando me vou embora
não sei. Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto.
Quando me vou embora
a infância foge.
Aquela última vez
à procura do fim.
Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto
fala-me de suicídio
para que possa chorar.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº 2, Setembro. 2009
Quando me vou embora
não sei. Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto.
Quando me vou embora
a infância foge.
Aquela última vez
à procura do fim.
Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto
fala-me de suicídio
para que possa chorar.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº 2, Setembro. 2009
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
NÃO SE PASSA NADA
Nada de cinismo
a vida é boa
ainda não há guerra
nem peste nem fome.
Ninguém cospe no teu rosto.
O fruto cai da árvore
a fêmea é fértil
o macho vigoroso
as crias alegram o prado
e o sol brilha brilha.
A ciência não pára
de nos surpreender
e dar conforto:
nascer crescer ser velho
e falecer. Moléculas
átomos e neutrões
amparam-nos na queda
dizem-nos o que é o amor.
O amor também é feito
de vermes e bactérias.
A sua chama
transforma os nossos corpos
na mais bela cinza.
Isabel de Sá, in O binómio de Newton E a Vénus de Milo - Antologia. ALETHEIA Editores, Lisboa, Novembro. 2011
Nada de cinismo
a vida é boa
ainda não há guerra
nem peste nem fome.
Ninguém cospe no teu rosto.
O fruto cai da árvore
a fêmea é fértil
o macho vigoroso
as crias alegram o prado
e o sol brilha brilha.
A ciência não pára
de nos surpreender
e dar conforto:
nascer crescer ser velho
e falecer. Moléculas
átomos e neutrões
amparam-nos na queda
dizem-nos o que é o amor.
O amor também é feito
de vermes e bactérias.
A sua chama
transforma os nossos corpos
na mais bela cinza.
Isabel de Sá, in O binómio de Newton E a Vénus de Milo - Antologia. ALETHEIA Editores, Lisboa, Novembro. 2011
SIMBIOSE CHEIA DE GRAÇA
Os perdidos
aqueles sem compromisso
perturbam a ordem
assustam os rastejantes.
Esses verdadeiros heróis
bebem o ácido
e comem detritos
crentes na glória.
Existem os outros
os sustentados
no círculo delirante
acorrentados à ficção da espera.
Cortesãs de secretária
expostas ao ofício
aos caprichos da clientela.
E o terror do desamparo?
O escravo tem acesso ao tapete do senhor
à sua cama. Talvez ao seu olhar.
Também será aquele que não existe
mas é a presença.
"Estás destinado à beleza.
Nunca verás a luz."
- palavras do senhor.
A beleza é então treva
escuridão sem fim?
O rebanho encontra o pastor
virtuoso
cheio de encantos.
Renuncia à tempestade
aceita a provação e a caridade.
O rebanho cumpre. Na sombra alimenta o ódio.
Abismo e esplendor perpetuam o idílio.
Ninguém sabe como vai acabar.
A voz da paixão é alienante
e todos caem.
Entretanto a noite desce
arrasa tudo:
personagens
ilusão e romance.
A roleta da fama atormenta os mortais.
Escapam à miséria do anonimato.
A velhice?
Queremos para sempre
o luxo de uma pele jovem
coração vermelho vivo.
Sabia-se o caminho
havia um farol
a cruz o fim do túnel.
Entretanto o caos alastra.
Reconhecer que algo vai mal
visão do outro lado
o assunto percorre um longo caminho
ninguém entende a espera.
Ninguém quer ser Nada
pensamento em desordem ou até alucinado.
Reconhecer que está mal é paleio.
As vozes ouvem-se a si próprias
neste sistema esquizofrénico.
Vale a pena usar poucas palavras
ler e reler
ficar dentro das ideias no escuro pensamento.
A paisagem é verdade ou mentira?
Segredo é não saber de que lado sopra o vento.
Coitados dos sonhadores
vivem à margem do dia e da noite
longe de tudo.
Compra-se o futuro
o cartaz
e também o microfone.
Quanto tempo é que isto vai durar?
Parece magia
temos de enfrentar a dor
o sofrimento
quando nos cruzamos na rua
talvez em frente ao espelho
ou diante da porta trancada.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº1, Junho. 2009
Os perdidos
aqueles sem compromisso
perturbam a ordem
assustam os rastejantes.
Esses verdadeiros heróis
bebem o ácido
e comem detritos
crentes na glória.
Existem os outros
os sustentados
no círculo delirante
acorrentados à ficção da espera.
Cortesãs de secretária
expostas ao ofício
aos caprichos da clientela.
E o terror do desamparo?
O escravo tem acesso ao tapete do senhor
à sua cama. Talvez ao seu olhar.
Também será aquele que não existe
mas é a presença.
"Estás destinado à beleza.
Nunca verás a luz."
- palavras do senhor.
A beleza é então treva
escuridão sem fim?
O rebanho encontra o pastor
virtuoso
cheio de encantos.
Renuncia à tempestade
aceita a provação e a caridade.
O rebanho cumpre. Na sombra alimenta o ódio.
Abismo e esplendor perpetuam o idílio.
Ninguém sabe como vai acabar.
A voz da paixão é alienante
e todos caem.
Entretanto a noite desce
arrasa tudo:
personagens
ilusão e romance.
A roleta da fama atormenta os mortais.
Escapam à miséria do anonimato.
A velhice?
Queremos para sempre
o luxo de uma pele jovem
coração vermelho vivo.
Sabia-se o caminho
havia um farol
a cruz o fim do túnel.
Entretanto o caos alastra.
Reconhecer que algo vai mal
visão do outro lado
o assunto percorre um longo caminho
ninguém entende a espera.
Ninguém quer ser Nada
pensamento em desordem ou até alucinado.
Reconhecer que está mal é paleio.
As vozes ouvem-se a si próprias
neste sistema esquizofrénico.
Vale a pena usar poucas palavras
ler e reler
ficar dentro das ideias no escuro pensamento.
A paisagem é verdade ou mentira?
Segredo é não saber de que lado sopra o vento.
Coitados dos sonhadores
vivem à margem do dia e da noite
longe de tudo.
Compra-se o futuro
o cartaz
e também o microfone.
Quanto tempo é que isto vai durar?
Parece magia
temos de enfrentar a dor
o sofrimento
quando nos cruzamos na rua
talvez em frente ao espelho
ou diante da porta trancada.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº1, Junho. 2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)